Você já imaginou dedicar anos da sua vida a um projeto, ver ele decolar e, de repente, sumir sem explicação? É exatamente isso que aconteceu com diversos desenvolvedores chineses de jogos indie, e a história é tão surpreendente quanto preocupante.
Ningkun Dai, fundador e CEO da Leap Studio, descreve o momento em que seu jogo de estreia, Realm of Ink, foi removido da Steam como o “pior momento” da empresa. Mais de três anos de trabalho, evaporados sem aviso prévio. Sem renda, sem seu jogo na plataforma, ele se sentiu perdido.
O que acontece quando a Steam deleta seu jogo sem aviso?
Imagine: você acorda, confere a comunidade do seu jogo no QQ (uma plataforma chinesa similar ao Discord), e descobre que ninguém consegue mais achar seu jogo na Steam. Nem você! Foi assim que o Ningkun Dai descobriu que Realm of Ink, um roguelite estilo Hades com inspiração na mitologia chinesa que havia feito sucesso no lançamento antecipado, havia sumido. Sem uma única notificação da Valve, a empresa responsável pela plataforma Steam.
A mesma situação atingiu Xiong Tang (conhecido como Black), fundador de outro estúdio indie. Seu jogo, Kill the Shadow, também foi removido sem explicação, após um lançamento de demonstração bem-sucedido no Steam Next Fest.
O impacto nos desenvolvedores
O que esses dois casos têm em comum? Ambos os jogos eram publicados pela 663 Games. Todos os jogos publicados por essa empresa foram deletados da Steam no mesmo dia. Sem explicações, o trabalho de vários desenvolvedores independentes foi simplesmente apagado da plataforma.
Dai e Black, porém, não se deixaram abater. Apesar do baque financeiro e da falta de comunicação da Valve, eles e suas equipes persistiram. Foram meses de trabalho árduo, enquanto tentavam entrar em contato com a Valve para tentar re-inserir seus jogos na Steam. Dai, inclusive, teve que hipotecar sua casa.
A situação impactou a vida pessoal dos desenvolvedores. Um produtor executivo de Realm of Ink, por exemplo, teve seu casamento afetado pela distância e a falta de tempo devido aos anos de desenvolvimento do jogo.
Recuperação e Reinvenção
Após meses, ambos os jogos retornaram à Steam. Para Dai, a mensagem que recebeu da Steam foi apenas “por favor, não faça isso de novo”, sem maiores explicações sobre o que teria causado a remoção. Black conseguiu re-inserir a demo de Kill the Shadow um mês depois de falar sobre o ocorrido.
A Leap Studio, mesmo em meio ao caos, dobrou o conteúdo de Realm of Ink, transformando o DLC planejado em parte do jogo principal. Para Dai, essa experiência foi tão improvável que seria um péssimo filme.
Superando estereótipos
É importante considerar o contexto nacional dos desenvolvedores. Sendo chineses, tanto Dai quanto Black enfrentam desafios adicionais, como preconceitos culturais em relação aos jogos chineses, mesmo aqueles sem ligação direta com o governo chinês.
A barreira da língua também representa um obstáculo significativo. Muitos desenvolvedores independentes chineses precisam de tradutores, dificultando a divulgação de seus jogos na mídia ocidental. Dai destaca a importância de melhorar a comunicação entre desenvolvedores chineses e plataformas como a Steam.
A experiência de Dai e Black mostra a vulnerabilidade dos estúdios independentes diante da falta de transparência e comunicação de grandes plataformas como a Steam. Essa falta de clareza pode ter consequências devastadoras para esses desenvolvedores , que dedicam suas vidas e recursos a projetos apaixonantes. Precisamos de mais transparência e diálogo.
Compartilhe suas experiências com a Steam!
Fonte: The Gamer