A Apple está perdendo terreno em várias nações com seu modelo de negócio da App Store. Será que chegou a hora da empresa mudar de estratégia e focar na proteção do que ainda consegue controlar?
O Brasil é o mais recente obstáculo para a gigante de tecnologia. Um juiz brasileiro deu à Apple apenas 90 dias para abrir sua App Store, de forma semelhante ao que está sendo exigido na Europa.
O Brasil manda a Apple abrir as portas
Segundo relatos locais, o juiz Pablo Zuniga foi direto: “A estrutura fechada do iOS e as restrições impostas às vendas de aplicativos de terceiros são precisamente os fatores que justificam a ação preventiva da autoridade antitruste, pois sua manutenção sem intervenção pode dificultar a entrada de novos concorrentes e impedir a restauração da concorrência no setor.”
A Apple terá que permitir o side-loading de aplicativos de lojas de terceiros em dispositivos iOS. Isso também significa criar um ecossistema para suporte. O tribunal decidiu restabelecer uma liminar que a Apple havia anteriormente conseguido reverter com sucesso; o caso original foi liderado pelo órgão antitruste do Brasil. Este órgão também exige que a Apple permita o uso de sistemas de pagamento in-app alternativos.
Zuniga também observou que a Apple não sofreu danos significativos em seu modelo econômico quando abriu a loja para concorrentes na UE. (É discutível se já vimos o impacto total dessa mudança, dada a litigância em andamento sobre a abordagem da Apple.)
A Apple continua insistindo que abrir a economia de aplicativos da forma exigida pelos reguladores representará um desafio significativo para manter a segurança e a privacidade do cliente em suas plataformas. A Apple afirma que recorrerá da decisão do Brasil.
Fracasso e sucesso
Os críticos afirmam que a sequência de derrotas da Apple demonstra a fraqueza de seus argumentos. Eles podem ter razão, mas à medida que essas batalhas se intensificam, é fácil perder de vista o fato de que pelo menos algumas das defesas da Apple têm fundamento. Abrir a plataforma para side-loading irá tornar a plataforma menos privada e segura, pois nem todas as lojas de aplicativos ou desenvolvedores poderão investir tanto em segurança e proteção de privacidade. Isso importa para pessoas e empresas, então faz sentido garantir que ainda haja uma opção que permita aos clientes escolherem o ambiente mais seguro que a Apple oferece.
A Apple tem o direito de gerar renda com as vendas feitas usando o ecossistema que construiu, e a única questão que realmente importa é quanto essa taxa deve ser. São 30%, que alguns desenvolvedores de aplicativos da App Store pagam, ou 15%, que a maioria dos desenvolvedores de aplicativos pagos oferece? Ou nada, que é o que os aplicativos gratuitos pagam pela distribuição? A taxa deve ser equivalente à definida pela Epic, ou semelhante às taxas de colocação cobradas por grandes supermercados pelo espaço nas prateleiras?
Nenhum tribunal parece ter abordado essa questão, provavelmente porque a natureza inerente dessa questão definiria qual seria uma margem de lucro aceitável, o que seria um problema em uma era de acumulação de riqueza. Não é de admirar que os tribunais não queiram definir isso. Você imagina o impacto de tal definição? Imagino que os bilionários do mundo provavelmente sim.
Olhos no prêmio
Deixando de lado as questões sobre a desigualdade estrutural de riqueza, o problema da Apple é que, ao levantar bons argumentos em defesa de seu negócio na App Store e perder esses argumentos, ela também está perdendo a discussão sobre privacidade e segurança. Dado o clamor global sobre o abuso do governo do Reino Unido em relação à criptografia do iCloud, este é um bom momento para levantar novamente as discussões sobre privacidade e segurança.
A Apple tem apoio para esses valores. Mas, como mostra a decisão no Brasil, ela não tem apoio quando se trata de taxas da App Store (tão justificadas quanto eu possa achar algumas delas). Assim, faz muito mais sentido para a empresa liberar tempo valioso de gerenciamento para se concentrar em algo mais, dado que ficou óbvio que ela será forçada a abrir a App Store, nação por nação.
Chegou a hora de seguir em frente, porque já sabemos para onde o jogo está indo.
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Fonte: Computerworld