Vocês já ouviram falar de liminal spaces? São aqueles lugares que parecem tirados de um sonho, meio estranhos, meio nostálgicos, e que te deixam com uma sensação desconcertante. Pois bem, minha primeira experiência verdadeiramente aterrorizante deste ano foi com Dreamcore, um jogo de terror que explora exatamente essa premissa viral.
Desenvolvido pelo estúdio Montraluz, Dreamcore apresenta um estilo visual de found footage em VHS. Você explora cenários inicialmente normais, mas a cada minuto duvida de suas próprias noções de ordinário e cotidiano.
Mergulhando nas Águas Oníricas
Dreampools, um dos dois níveis disponíveis no lançamento, se passa em uma piscina coberta. Você chega pela saída de um escorregador azul, sem saber quem é, onde está ou o que fazer. A única pista é uma mensagem curta antes de carregar o nível: “Explore o ambiente apenas por curiosidade. Paciência e observação são a chave.”
Começo a jornada olhando ao redor. Paredes, teto, chão e pilares são feitos de pequenos quadrados brancos. Há uma planta no canto esquerdo, enquanto o único caminho está à direita. Brinco com o zoom da câmera, meus passos soam engraçados, como se houvesse um atraso entre o movimento e o som. Correr me deixa estranhamente pesada. Uma música agradável toca, mas não consigo encontrar a fonte. Nada parece certo.
Ao descer a primeira escada, vejo a primeira piscina. Não é muito funda. Ando mais devagar, pois não consigo correr. Não é o melhor lugar para fugir se eu realmente não estiver sozinha.
À direita, uma porta aberta com uma placa: “Aviso: Lanterna Necessária Aqui”. Arrisco alguns passos, mergulhando na escuridão total. “Talvez depois”, penso, voltando e continuando a explorar.
Rostos Sorridentes Não São Seus Amigos
A música fica mais leve. Um ruído estático constante surge, suficiente para me incomodar. Cada novo cômodo apresenta as mesmas paredes brancas com formas e tamanhos diferentes, às vezes com mais piscinas. Começo a me perguntar se as plantas são todas iguais, ou se há variações que não consigo perceber.
Uma porta leva a um beco sem saída, com corrimãos que não consigo ultrapassar. Ao olhar para baixo, vejo um grupo de rostos sorridentes amarelos gigantes. Infelizmente, não posso interagir com eles, então volto novamente.
Minutos depois, percebo que quase todos os cômodos têm mais de um caminho, e cada um me leva a um novo lugar, sem retorno. Começo a me perguntar o tamanho do local, a possibilidade do caminho se modificar a cada saída. O jogo está se adaptando às minhas decisões? Posso escapar? Por que sinto que estou sendo observada?
Cômodos específicos chamam minha atenção: um enorme com buracos em uma parede inacessível; uma longa escada leva a uma porta com um rosto sorridente que se move ao me aproximar; mais escorregadores de cores diferentes aparecem; os rostos sorridentes gigantes surgem em todos os lugares, às vezes me olhando diretamente.
Finalmente, Uma (Pequena) Luz no Fim do Túnel
Encontro uma lanterna em uma mesa, em um cômodo levemente iluminado. Ela aponta para uma porta desenhada na parede, com um aviso. Talvez seja a mesma porta do início? Infelizmente, não sei voltar, então sigo procurando novos caminhos. Mas não antes de ligar a lanterna e encontrar outro rosto sorridente em um canto, antes escondido pela escuridão. Deixo para lá e continuo.
Parece que estou em Dreampools há uma hora, mas não tenho coragem de verificar. Começo a sentir que não estou ali, nem no jogo nem na minha sala.
Em um ponto, encontro uma escada infinita. Desço por minutos até chegar ao outro lado. É claramente uma nova zona: os cômodos brilhantes agora estão na escuridão. A lanterna não ajuda muito. As plantas sumiram; agora vejo esferas de concreto perfeitas, simulando um boneco de neve de mármore.
Ouço um novo som, sem conseguir localizar a fonte. Parece alguém apertando um botão a cada poucos segundos. Minha cabeça diz para parar, mas continuo. Piscinas gigantes, longos corredores escuros e espaços que não consigo compreender de uma vez só são minhas paisagens comuns. Tenho certeza que algo vai aparecer para me assustar. É demais até que começo a andar em um caminho com vários andares que parecem ter uma queda livre nas laterais, mas também uma luz verde mostrando a saída em um andar inferior.
Calculo rapidamente onde preciso ir, descendo andares, usando escadas e caminhando sobre piscinas infinitas. O som do botão se aproxima. Vejo a porta de saída, mas leva a um quarto cheio de água, com uma pequena luz no final. Finalmente, vejo um elevador – o que diabos está fazendo aqui? – e escapo do meu pesadelo aquático.
Após os créditos, vejo outro cenário: “Eternal Suburbia”. Parece uma área com pequenas casas em um gramado que lembra o tema clássico do Windows XP. “Talvez este não seja tão ruim”, digo em voz alta, antes de desligar o console e terminar o dia.
Apesar de estudados há muito tempo, liminal spaces continuam sendo um mistério para muita gente. Não há uma resposta definitiva sobre o que os torna tão atraentes, por que alguns encontram alívio e tranquilidade, enquanto outros, como eu, sentem um medo existencial ao passá-los. Se você quiser ver se isso é para você, pode tentar uma demo gratuita de Dreamcore no Steam.
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